Welliton Carlos
Quando assumiu o Governo de Goiás em janeiro de 2019, Ronaldo Caiado encontrou uma situação financeira e administrativa crítica, descrita à época como a pior das últimas três décadas. Na época, ele chamou o caso de "vandalismo administrativo".
Ao apresentar o extrato bancário oficial da Caixa Econômica Federal, que comprovava que ele recebeu o Estado com exatos R$ 13.345.650,14 em conta, o político fez ressalvas: dois milhões naquele momento estavam saindo da conta, pagando uma fila de dívidas herdadas. Por isso, logo após vencer as eleições, começou a articular e buscar ajudas. Recebeu "meus pêsames" de alguns servidores públicos cientes do Titanic 'Goiás'. E nem sabia do pior: uma pandemia estava chegando.
Agora pré-candidato a presidente, Caiado é o único dos gestores com a experiência de herdar um estabelecimento falido e entregá-lo com nova clientela, sob novo design e orientação de mercado - e dando lucro. Antes, estado caloteiro e analógico, Goiás tem tudo para ser mostrado como vitrine na disputa de 2026. Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo estão onde sempre estiveram. Goiás avançou.
O Brasil caminha para situação semelhante ao estado de Goiás de 2018: sob controle do crime organizado, com rombos e déficits onerosos e impagáveis, com gastos descontrolados e inércia para resolver problemas estruturais. Para se ter ideia, Goiás acumulava uma dívida superior a R$ 20 bilhões e enfrentava dificuldades severas para manter serviços essenciais em funcionamento. Hospitais públicos operavam sem insumos básicos, salários de servidores estavam atrasados ou parcelados, Organizações Sociais não recebiam repasses e havia ameaças de interrupção no abastecimento de combustíveis para a segurança pública.
Calamidade
A gravidade da situação fez com que economistas e especialistas em finanças públicas sugerissem a decretação de estado de calamidade financeira — medida já adotada por outros estados em situações semelhantes, como o Rio de Janeiro. Relatórios de órgãos de controle, como Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado, apontavam irregularidades, rombos orçamentários e deficiências administrativas. O Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), referência estadual, chegou a ser interditado pelo Ministério Público do Trabalho devido à falta de mais de 150 itens essenciais.
Além das dificuldades na saúde, o setor econômico vivia retração. A indústria goiana acumulava queda de 3,6% na produção anual, segundo o IBGE, enquanto o comércio varejista apresentava o maior recuo entre os estados brasileiros, com retração de 4,8% no acumulado de 12 meses.
A agricultura também registrava retração: a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas de 2018 foi 4,8% inferior à do ano anterior. A informalidade avançava, agravando a precariedade social.
No plano fiscal, o Estado comprometia 74% de suas receitas com a folha de pagamento e figurava entre as unidades federativas mais endividadas do país. Os precatórios somavam quase R$ 1 bilhão, com perspectiva de quitação integral apenas em um prazo estimado de 95 anos.
A crise estrutural era, em parte, resultado de gestões anteriores, que mesmo após a venda da Celg (por R$ 2,1 bilhões, mas com retorno efetivo de menos de R$ 1 bilhão ao Estado), não conseguiram reorganizar as contas públicas. Atualmente, em segundo mandato como governador, Caiado tem fama de bom gestor, sentenciada nas várias pesquisas de opinião.
Mas naquele 2019 sua gestão era uma incógnita. Ao assumir, Caiado anunciou medidas emergenciais: implementação de um programa de compliance para combater desvios e fraudes, redução de cargos comissionados, retomada de secretarias extintas — como Cultura, Esporte e Agricultura — e uma reforma administrativa para reduzir a máquina e controlar gastos.
O governador também criou uma equipe de transição para levantar um diagnóstico detalhado da situação herdada, com o objetivo de adequar seu plano de governo ao cenário fiscal e operacional real. A missão, segundo ele, era evitar a paralisação total da máquina pública e restabelecer a governabilidade.
Brasil
Assim como Caiado, o próximo presidente do Brasil herdará um país em grave desequilíbrio fiscal, social e estrutural. A dívida pública ultrapassa 76% do PIB. E deve chegar a 86% até 2026, pressionada pelos altos juros e pela forte dependência de títulos indexados à Selic. O detalhe: o déficit fiscal nominal é de 7,8% do PIB. Já as despesas obrigatórias comem 93% do orçamento - assim, fica pouca margem para investimentos e ações emergenciais.
O rombo na Previdência é outro ponto crítico: o déficit chega a R$ 50 bilhões, impulsionado pelo envelhecimento da população e a informalidade no mercado de trabalho. O crescimento do PIB segue modesto, projetado em torno de 2,3% a 2,5% para 2025, bem abaixo da média de economias emergentes.